O médico que me atende no consultório é o mesmo que, caso eu
precise, fará a minha cirurgia? Essa é uma associação comum, porém não é a mais
correta. Em linhas gerais, o profissional pode optar por uma especialização em
clínica médica ou cirúrgica. Para explicar melhor o assunto, o médico cirurgião
Nicolas Lamas, chefe do Departamento de Cirurgia Geral do Hospital da
Providência, desde 2008, faz uma breve retrospectiva dos passos da formação
profissional na área.
“Após o término do curso de Medicina, o profissional estará
habilitado a realizar qualquer atividade médica, porém é comum engajar em uma
especialidade. No Brasil, hoje em dia, existem duas formas: realização de
residência médica e pós-graduação em instituições credenciadas pelas sociedades
médicas, que dão o direito de realizar uma prova de títulos para uma
especialidade médica”, pontua.
Lamas observa que, geralmente, o médico formado opta por uma
especialidade clínica ou cirúrgica. “Quando opta por uma especialidade clínica,
tem que fazer dois anos de treinamento em clínica médica e mais dois ou três em
uma subespecialidade para estar autorizado a ser especialista na área que
escolheu”.
“Quando opta pela cirurgia, tem que fazer dois ou três anos
de cirurgia geral. Se optar por dois anos não poderá usar o título de cirurgião
geral, mas estará autorizado a fazer uma subespecialidade cirúrgica, como
cirurgia plástica, por exemplo. Se optar por três anos, poderá usar o título de
cirurgião geral e também estará autorizado a fazer uma subespecialidade
cirúrgica”, esclarece.
Exemplo - Um caso comum, segundo Lamas, é chamar todo médico
que cuida da parte do sistema digestório, de GASTRO. “Gastroenterologia é uma
especialidade clínica que exige formação de dois anos em clínica médica e mais dois
ou três em gastroenterologia. Esta especialidade trata dos problemas clínicos
do sistema digestório, mas não faz tratamento cirúrgico. Já o cirurgião geral e/ou
cirurgião do aparelho digestivo trata dos problemas do aparelho digestório e,
quando necessário, realiza também o tratamento cirúrgico”, observa.
Indicação de outro profissional é comum
Não raro, o médico especialista pode indicar outro
profissional de sua confiança para realizar o procedimento cirúrgico. A
indicação pode ocorrer até mesmo quando o médico é especialista em cirurgia. “Se
o paciente procura um médico especialista em cirurgia e o mesmo indica que o
paciente deve ser operado, ele deve ser o responsável pelo tratamento
cirúrgico, porém, também pode indicar outro profissional para realizar o
procedimento”, diz.
De acordo com o chefe do Departamento de Cirurgia Geral do
Hospital da Providência, a indicação pode ocorrer quando o profissional, apesar
de habilitado na área, não é especialista num determinado tipo de cirurgia ou
não realiza o procedimento com frequência, preferindo indicar um colega de
confiança. “Em todo caso, o médico deve ser honesto e sincero com o paciente”,
afirma.
As diferenças entre cirurgião geral e cirurgião especialista
em cirurgia videolaparoscópica
A diferença, segundo Lamas, é basicamente na formação. “Hoje
em dia, a maioria das instituições formadoras de cirurgiões oferecem
treinamento em videolaparoscopia, que pode ser desde a laparoscopia básica até
a avançada, mas, ainda existem centros formadores que não oferecem o
treinamento laparoscópico”, observa.
“Além da formação básica na residência e pós-graduações,
existem diversos cursos que oferecem a oportunidade de aperfeiçoamento em
técnicas minimamente invasivas, que é o meu
caso. Eu fiz o treinamento na residência médica em videolaparoscopia básica e
avançada e, após a minha formação, procurei me aprofundar mais, realizando
cursos de pós-graduação no Brasil e no Exterior”, ressalta.
“Portanto, a diferença entre um cirurgião geral e um
cirurgião especialista em cirurgia videolaparoscópica é o maior tempo de
treinamento e aperfeiçoamento específico na cirurgia minimamente invasiva. O
profissional, por ter mais habilidade técnica e conhecimento, consegue realizar
a maioria das cirurgias convencionais pelo método minimamente invasivo, que
oferece várias vantagens, como menos dor no pós-operatório, recuperação mais
rápida, menor tempo de internação, menor risco de infecção, entre outros”.