Como protagonista dos três filmes da franquia Até que a
Sorte Nos Separe, Leandro Hassum levou mais de 10 milhões aos cinemas entre
2012 e 2015. O auge da sessão se dava quando o humorista, fazia piada usando um
incontornável atributo: sua pança. Cinco anos depois de ser submetido a uma
cirurgia bariátrica que o fez perder quase 60 dos seus 150 quilos, Hassum
garante que aquele trunfo da comédia foi contornado. Nesta entrevista, Hassum
fala do antes e do depois da cirurgia de redução de estômago, rememora o trauma
da prisão do pai por tráfico de drogas e opina sobre humor engajado e correção
política.
O senhor já se mostrou irritado com as reações nas redes
sociais à sua cirurgia bariátrica. Os comentários ainda incomodam? Por
incrível que pareça, ainda há muitas pessoas que criticam meu emagrecimento.
Elas dizem que traí o “movimento” dos gordinhos. O obeso virou o novo belo, o
antídoto contra a ditadura do corpo perfeito. Eu nunca fiz parte desse tal
movimento. Era gordo e ponto-final. Só que pesar 150 quilos não é ser um
gordinho. Para um cara de 1,79 metro, isso se chama obesidade mórbida. É uma
doença.
Sua saúde estava em risco? Sim. Eu era um cara perto
da morte. O obeso mórbido dorme saudável e não acorda no dia seguinte. Mas
muitas pessoas ainda não entendem minha decisão, lá se vão cinco anos desde a
operação, em 1º de novembro de 2014. Quando alguém me diz “Preferia você gordo”
é o mesmo que dizer “Preferia quando você estava perto de morrer”. Não foi por
futilidade que resolvi deixar de ser gordo. Foi por longevidade. Quero ver
minha filha adulta.
Quando teve consciência disso? Até certo momento,
nenhum gordo tem consciência. Se você chegar para um cara que pesa 180 quilos e
disser “Cara, por que você não opera?”, ele vai responder que é feliz assim.
“Grande porcaria, eu estou com a saúde boa, meus exames de colesterol e glicose
estão o.k.” Mas minha visão mudou quando fui a um churrasco na casa do André
Marques, em 2014. Ele tinha feito a operação um ano antes, e foi a primeira vez
que vi o André magro. Tomei um choque. André então se ofereceu para me levar ao
médico dele. Eu disse que não queria, que estava bem. Mas acabei indo. Saí do
consultório com a cirurgia marcada.
Nas suas comédias de sucesso no cinema, o público vibrava
ao ver sua pança. O trunfo do humor físico não faz falta? Minha barriga era
uma grande personagem. Agora, não posso crer que quase trinta anos de carreira
se constroem sobre um pedaço de carne. Se você bota um gordo dançando, já tem
50% da piada. Mas o efeito dura um minuto. Ninguém sustenta um filme ou uma
peça com a barriga. Se gordura tivesse graça, era só ir ao açougue e rir de uma
picanha.
No entanto, há quem credite o menor sucesso de seus
filmes recentes ao emagrecimento. Como responde a isso? Quando eu quis
operar, disseram que estava louco. “Você é o gordo mais engraçado do Brasil”,
afirmavam. Mas não, eu sou um ator talentoso que, por coincidência, era gordo.
Já me incomodou dizerem que perdi a graça, mas aprendi a aceitar os viúvos da
barriga. Logo que emagreci e comecei a mostrar meu novo estilo de vida nas
redes sociais, vieram maldades do tipo: “Nossa, ele está metido, está acabado”.
Respondi de forma até agressiva. A gente é humano.
Após a cirurgia, o senhor fez posts em que malhava e
usava roupas justas. Emagrecer infla o ego? Malho diariamente, mas estou
longe de virar muso fitness, como já disseram. A ginástica é uma forma de
tratamento. E, quando a academia entrou em minha vida, a vaidade veio junto.
Passei a caber numa roupa melhor, podia comprar em mais lojas. A adaptação
exige paciência. Logo que operei, fui de 150 para 85 quilos. Emagreci demais.
Hoje, estou com 93 quilos. Com a perda de gordura, o rosto fica chupado, e tive
de fazer harmonização facial e aplicar Botox. Você precisa se reconhecer no seu
corpo novo.
Fonte: Revista Veja